2 de outubro de 2012

Nossa próxima atração: "O juiz S&M", em 6/10/12

CINECLUBE DARCY RIBEIRO apresenta O juiz S&M (SM rechter, 2009, Bélgica, 90 min, cor)
Direção: Erik Lamens. Roteiro: Gene Bervoets, Veerle Dobbelaere, Axel Daeseleire. Fotografia: Stijn Van der Veken. Montagem: Ewin Ryckaert. Música: Ivan Georgiev. Elenco: Gene Bervoets, Veerle Dobbelaere, Axel Daeseleire e outros.

Moral pública versus amor privado

“No início de 1997, Koen Aurosseau era um respeitado juiz na corte de primeira instância em Mechelen (cidade na província de Antuérpia, na Bélgica). No fim desse mesmo ano, foi acusado de agressão física e incitamento à prostituição, levantando um escândalo cujos respingos se espalharam pelos jornais. Koen logo foi condenado, perdeu o posto e mergulhou em depressão material e emocional, perdeu a casa e tentou suicídio. Sua mulher, Magda, que se sentia responsável por levá-lo a essa confusão, sempre esteve a seu lado.

Pois fora Magda quem pedira a Koen, cinco anos antes, que explorasse com ela os limites sexuais e que visitasse um clube sadomasoquista. O sadomasoquismo consensual entre adultos não é ilegal, mas, quando a vida privada do casal tornou-se de repente pública, a promotoria entrou em cena.
Sexo, política, vingança e segredos combinaram-se para fazer desta história uma rica narrativa. O juiz S&M é o longa-metragem de estreia do diretor flamengo Erik Lamens. ‘Pensei durante muito tempo antes de fazê-lo. Era um projeto arriscado, e foi difícil encontrar a perspectiva certa’, disse Lamens.
Talvez nunca a tivesse achado se o próprio juiz não o tivesse procurado. Na véspera de seu encontro, a apelação de Koen fora rejeitada pelo Tribunal Europeu de Direitos Humanos, e Lamens havia decidido abandonar o projeto. Mas Koen convenceu-o a mudar de ideia. ‘Eu precisava de um ângulo pessoal’, lembra Lamens. ‘O que víramos nos jornais e na TV, 12 anos antes, era uma visão do exterior, e eu queria chegar ao interior.’

Quando o caso estourou, Magda ficou em segundo plano, com toda a atenção que seu marido recebia. Ele dava entrevistas; ela se calava. Em O juiz S&M, Lamens focalizou-a mais. ‘Tudo começou com uma crise conjugal. Por causa da depressão dela, eles estavam à beira do divórcio. Então, ela lhe contou algo que escondera por 30 anos. E ele disse “se isso te fizer bem, vamos tentar”.’ Lamens acha que isso é o ponto central da história. ‘Isso me tocou de modo pessoal — o Estado interferia com o amor.’
O filme estava fadado à controvérsia, assim como o caso jurídico em que se baseava. ‘Outro dia, ouvi na TV que este é “o mais controvertido filme do ano”, mas não penso que seja discutível’, contesta Lamens. ‘Só quis mostrar às pessoas o que ainda não sabiam — por que uma esposa pede isso após 15 anos de casamento e por que o marido concorda.’
Mas talvez o mais perturbador para o público seja o próprio conceito de sadomasoquismo. O filme não se furta a mostrar as práticas do casal, desde meros amarração e açoites até experiências radicais pouco conhecidas fora da comunidade S&M. ‘Eu quis proporcionar um quadro de referência, pois eu mesmo não sabia muito de S&M’, reconhece Lamens. ‘Muitos desconhecem esse tipo de sexualidade.’

Entretanto, a questão não é se o público aprova o sadomasoquismo, mas se as práticas sexuais provadas têm a ver com a capacidade de um juiz realizar seu trabalho. Lamens é muito claro sobre o que pensa: “Criminosos de fato são libertados por causa de erros, mas adultos que se relacionam consensualmente e não prejudicam ninguém são condenados. O sistema despende muito tempo e dinheiro com certa pessoa, quando há muitas outras que não tiveram a atenção de que precisavam.’” (O privado é privado, Flanders Today, 10 de março de 2009, http://www.flanderstoday.eu/content/%E2%80%9Cprivate-private%E2%80%9D).

Atenção: este filme ainda não foi exibido no Brasil.


CINECLUBE DARCY RIBEIRO
Depois de um grande filme, sempre um bom debate

Debatedor convidado: prof. Luis Augusto Contador Borges, da Escola de Sociologia e Política de São Paulo

Data: sábado, dia 6 de outubro de 2012
Hora: 13h
Local: Sala Florestan Fernandes (r. General Jardim, 522, Casarão, próximo à estação República do metrô)

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