CINECLUBE DARCY RIBEIRO apresenta O juiz S&M (SM rechter,
2009, Bélgica, 90 min, cor)
Direção:
Erik Lamens. Roteiro: Gene Bervoets, Veerle Dobbelaere, Axel Daeseleire.
Fotografia: Stijn Van der Veken. Montagem: Ewin Ryckaert. Música: Ivan Georgiev.
Elenco: Gene Bervoets, Veerle Dobbelaere, Axel Daeseleire e outros.
Moral pública versus amor privado
“No início de
1997, Koen Aurosseau era um respeitado juiz na corte de primeira instância em
Mechelen (cidade na província de Antuérpia, na Bélgica). No fim desse mesmo
ano, foi acusado de agressão física e incitamento à prostituição, levantando um
escândalo cujos respingos se espalharam pelos jornais. Koen logo foi condenado,
perdeu o posto e mergulhou em depressão material e emocional, perdeu a casa e
tentou suicídio. Sua mulher, Magda, que se sentia responsável por levá-lo a
essa confusão, sempre esteve a seu lado.
Pois fora
Magda quem pedira a Koen, cinco anos antes, que explorasse com ela os limites
sexuais e que visitasse um clube sadomasoquista. O sadomasoquismo consensual entre
adultos não é ilegal, mas, quando a vida privada do casal tornou-se de repente
pública, a promotoria entrou em cena.
Sexo,
política, vingança e segredos combinaram-se para fazer desta história uma rica
narrativa. O juiz S&M é o
longa-metragem de estreia do diretor flamengo Erik Lamens. ‘Pensei durante muito
tempo antes de fazê-lo. Era um projeto arriscado, e foi difícil encontrar a perspectiva
certa’, disse Lamens.
Talvez nunca
a tivesse achado se o próprio juiz não o tivesse procurado. Na véspera de seu
encontro, a apelação de Koen fora rejeitada pelo Tribunal Europeu de Direitos
Humanos, e Lamens havia decidido abandonar o projeto. Mas Koen convenceu-o a
mudar de ideia. ‘Eu precisava de um ângulo pessoal’, lembra Lamens. ‘O que
víramos nos jornais e na TV, 12 anos antes, era uma visão do exterior, e eu
queria chegar ao interior.’
Quando o caso
estourou, Magda ficou em segundo plano, com toda a atenção que seu marido
recebia. Ele dava entrevistas; ela se calava. Em O juiz S&M, Lamens focalizou-a mais. ‘Tudo começou com uma
crise conjugal. Por causa da depressão dela, eles estavam à beira do divórcio.
Então, ela lhe contou algo que escondera por 30 anos. E ele disse “se isso te
fizer bem, vamos tentar”.’ Lamens acha que isso é o ponto central da história. ‘Isso
me tocou de modo pessoal — o Estado interferia com o amor.’
O filme
estava fadado à controvérsia, assim como o caso jurídico em que se baseava. ‘Outro
dia, ouvi na TV que este é “o mais controvertido filme do ano”, mas não penso
que seja discutível’, contesta Lamens. ‘Só quis mostrar às pessoas o que ainda
não sabiam — por que uma esposa pede isso após 15 anos de casamento e por que o
marido concorda.’
Mas talvez o
mais perturbador para o público seja o próprio conceito de sadomasoquismo. O
filme não se furta a mostrar as práticas do casal, desde meros amarração e açoites
até experiências radicais pouco conhecidas fora da comunidade S&M. ‘Eu quis
proporcionar um quadro de referência, pois eu mesmo não sabia muito de S&M’,
reconhece Lamens. ‘Muitos desconhecem esse tipo de sexualidade.’
Entretanto, a
questão não é se o público aprova o sadomasoquismo, mas se as práticas sexuais
provadas têm a ver com a capacidade de um juiz realizar seu trabalho. Lamens é
muito claro sobre o que pensa: “Criminosos de fato são libertados por causa de
erros, mas adultos que se relacionam consensualmente e não prejudicam ninguém
são condenados. O sistema despende muito tempo e dinheiro com certa pessoa,
quando há muitas outras que não tiveram a atenção de que precisavam.’” (O
privado é privado, Flanders Today, 10
de março de 2009, http://www.flanderstoday.eu/content/%E2%80%9Cprivate-private%E2%80%9D).
Atenção: este filme ainda não foi exibido no Brasil.
CINECLUBE DARCY RIBEIRO
Depois
de um grande filme, sempre um bom debate
Debatedor
convidado: prof. Luis Augusto Contador Borges, da Escola de Sociologia e Política
de São Paulo
Data: sábado, dia 6 de outubro de 2012
Hora: 13h
Local: Sala Florestan Fernandes (r. General
Jardim, 522, Casarão, próximo à estação República do metrô)