CINECLUBE
DARCY RIBEIRO apresenta Barravento (1961, Brasil, 78 min, p&b)
Direção:
Glauber Rocha. Roteiro: Glauber Rocha, Luiz Paulino dos Santos, José Teles de
Magalhães. Fotografia: Tony Rabatoni. Montagem: Nelson Pereira dos Santos.
Música: Canjiquinha, Batatinha. Elenco: Antonio Pitanga, Luiza Maranhão, Lucy
de Carvalho, Aldo Teixeira, Lídio Santos e outros.
O primeiro longa-metragem de Glauber
Rocha. Embora datado e produzido em condições muito adversas, é um belo e digno
estudo sobre a exploração dos trabalhadores na pesca praieira e do papel da
religião, em particular a de matriz africana, nas condições de alienação dos
pescadores
O cineasta em crise
“Eu
filmei ‘Barravento’ num estado de crise, abandonava as ideias da adolescência...
Diferentes dos intelectuais franceses, nós temos uma formação cultural muito
confusa, lê-se primeiro os dadaístas, depois a tragédia grega. Conhecemos o
romance americano de Faulkner e em seguida descobrimos Rimbaud e Mallarmé. As
universidades não funcionam mesmo, os livros chegam numa grande desordem. A
formação de um jovem brasileiro é incoerente [...]
“Éramos eisensteinianos”
Nessa
época, eu era surrealista, futurista, dadaísta e marxista ao mesmo tempo. No
Brasil, por exemplo, todas as teorias de Eisenstein chegaram em tradução
espanhola e depois portuguesa e, como os cineclubes e as cinematecas são bem
organizados [na Europa], a obra de Eisenstein era muito conhecida lá. Nós
éramos eisensteinianos e não admitíamos que se pudesse fazer um filme a não ser
com montagem curta, primeiros planos, etc. ‘Rio, 40 graus’ [Nelson Pereira dos
Santos, 1955] foi influenciado pelo neorrealismo. Gostamos muito do filme de
Nelson porque era de fato o primeiro filme brasileiro, mas fazíamos ressalvas
porque não era um filme eisensteiniano. [...]
Um filme “verdadeiro”
‘Pátio’
[curta-metragem de Glauber, de 1959] é um filme feito de metamorfoses, de
símbolos, de montagem dialética. ‘Barravento’ foi feito num outro espírito,
mais direto, mais verdadeiro, cheguei a registrar a música negra ao vivo. É um
filme mais perto da realidade porque já tínhamos visto nessa época ‘Roma,
cidade aberta’ e ‘Paisà’ [Roberto Rossellini, 1945 e 1946, respectivamente] e a
descoberta de Rossellini através desses dois filmes era uma espécie de
antieisensteinianismo. Em ‘Barravento’, sente-se então essa influência, mas
existem resíduos eisensteinianos, e primeiros planos no estilo de ‘Que viva
México!’ [Serguei Eisenstein & Grigori Aleksandrov, 1932]" (Glauber Rocha, "Revolução do Cinema Novo", São Paulo, Cosac Naify, 2004, p. 112).
CINECLUBE DARCY RIBEIRO
Depois
de um grande filme, sempre um bom debate
Debatedores
convidados: Sérgio Cumino (ator e diretor teatral, poeta e colunista sobre
religiões de matriz africana) e Elizabete do Nascimento (advogada especializada
em responsabilidade civil)
Data: sábado, dia 4 de maio de 2013
Hora: 14h
Local: Sala Florestan Fernandes do Casarão
(r. General Jardim, 522, próximo à estação República do metrô)
Nenhum comentário:
Postar um comentário