Direção:
Alain Fresnot. Roteiro: Sabina Anzuategui, Alain Fresnot, Helder Ferreira.
Fotografia: Pedro Farkas. Montagem: Junior Carone, Alain Fresnot, Mayalu
Oliveira. Música: John Neschling. Elenco: Simone Spoladore, Osmar Prado, Caco
Ciocler, Berta Zemel, Beatriz Segall e outros.
Ao contrário
da quase totalidade dos filmes que procuram representar fatos da história
brasileira, Desmundo não é
ridiculamente grandioso, gratuitamente irônico ou equivocadamente exótico. Na
crueza da minuciosa reconstituição de época, vislumbram-se seres humanos —
colonos portugueses, padres, freiras e noviças órfãs, indígenas escravizados —
em ambientes, atividades e interações que bem podem ter sido aquelas que de
fato ocorreram nos primeiros anos da ocupação da América pelos europeus.
Ou seja, nada
de eufórica transferência dos melhores aspectos socioculturais lusitanos para
as terras recém-descobertas, onde se irmanariam à inata nobreza e à profunda
sabedoria dos locais. Isso é bem diferente do que faz crer certa visão
eurocêntrica que romantiza, idealiza e falseia pessoas e fatos. É isso que se vê
em Desmundo: a violência de gente
enlouquecida de desejo em contraste com um ambiente extremamente hostil, no
qual se transtornam as certezas, se emporcalham as crenças e se subvertem as
esperanças. Nesse contexto, a religião, por exemplo, que se propõe a regular as
relações interpessoais, naturaliza o abuso e humilha a pureza.
Ainda nessa
perspectiva realista, Desmundo
distingue-se do ilusionismo melodramático recorrente na cinematografia
inspirada em Hollywood pela opção de apresentar personagens que se exprimem na
linguagem da época. (Já nos acostumamos com cavaleiros medievais, indígenas
norte-americanos, asiáticos, extraterrestres, etc. que discursam fluentemente
em inglês.) O diretor Alain Fresnot encarregou o escritor, pesquisador e
linguista Helder Ferreira de recriar em português arcaico os diálogos do filme.
Foi feito um elaborado trabalho de adaptação que, a partir de fontes diretas e
indiretas, considerou não só a época (primeiras décadas do século XVI) como a
condição social e de gênero dos falantes e até a presença de traços
remanescentes de falares anteriores.
Assim, foi
necessário recorrer a legendas em linguagem atual para benefício dos espectadores.
As escolhas do diretor
Caco Ciocler ("Ximeno") |
Alain Fresnot
nasceu em Paris, em 1951, e veio para o Brasil com 8 anos. Exerceu e exerce
quase todas as funções na atividade cinematográfica. Participou do grupo
fundador da Tatu Filmes, empresa que ajudou a definir o perfil do cinema
paulistano na década de 1980. É bem conhecido como montador — 31 títulos,
dentre os quais O homem que virou suco
(João Batista de Andrade, 1981) e A marvada
carne (André Klotzel, 1987) — e também como roteirista, diretor assistente e
produtor. Como diretor, além de Desmundo,
realizou os longas-metragens Trem
fantasma (1976), Lua cheia (1988),
Ed Mort (1997) e Família vende tudo (2011), entre outras obras.
O “toque feminino” da roteirista
Simone Spoladore ("Oribela") |
A curitibana
Sabina Anzuategui — roteirista, escritora, professora universitária e blogueira
— vai debater o filme de Fresnot com os participantes do Cineclube Darcy
Ribeiro, no dia 15 de setembro próximo. Será uma excelente oportunidade não só
de conhecer as vicissitudes dessa realização, como aspectos da tarefa de
roteirização, em especial quando se trata de adaptar uma obra literária à
linguagem cinematográfica.
CINECLUBE DARCY RIBEIRO
Depois
de um grande filme, sempre um bom debate
Debatedoras
convidadas:
Sabina Anzuategui, doutora em Audiovisual pela ECA-USP,
professora de técnicas de roteirização na Cásper Líbero, escritora e roteirista
Eliana Asche, graduada em Letras pela USP, doutora
em Pedagogia pela PUC-SP, professora de Comunicação e Expressão na FESPSP,
idealizadora do Projeto Literatura Espalhada de distribuição gratuita de livros
Este
debate faz parte da programação do II Seminário de Leitur LiteraSampa,
promovido pelo Polo LiteraSampa (http://literasampa.blogspot.com.br/).
Data: sábado, dia 15 de setembro de 2012
Hora: 13h
Local: Sala Florestan Fernandes (r. General
Jardim, 522, Casarão, próximo à estação República do metrô)
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