CINECLUBE DARCY RIBEIRO apresenta Leonera (Leonera, 2008, Argentina/Brasil/Coréia
do Sul, 113 min, cor)
Direção:
Pablo Trapero. Roteiro: Pablo Trapero, Alejandro Fadel, Martín Mauretegui, Santiago
Mitre. Fotografia: Guillermo Nieto. Montagem: Ezequiel Borovinsky, Pablo
Trapero. Música: Intoxicados, Chango Spasiuk, Los Palmeras. Elenco: Martina
Gusman, Elli Medeiros, Rodrigo Santoro e outros.
Maternidade, solidão, amor,
confinamento e esperança
“Fatos e números: o cenário do filme
Na Argentina,
apenas 7% do número total de homicídios cometidos por homens resultam de
acessos de paixão. No caso das mulheres, 72% são crimes de paixão.
Escolaridade
das mulheres quando ingressam nas prisões: 37% nunca estudaram; 42% completaram
o ensino fundamental; 9% terminaram o ensino médio; só 2% ingressaram no ensino
superior.
A
Penitenciária Feminina Unidade nº 31 “Nuestra Señora de San Nicolás”, em
Ezeiza, foi inaugurada em 1996, depois de uma rebelião na Unidade nº 3, que
era, até então, o único presídio federal para mulheres. Alegou-se que a nova
prisão serviria para proteger as internas grávidas e as mães encarceradas com
suas crianças.
Martina Gusman ("Julia") |
Em 1997, a
lei ampliou de dois para quatro anos o período máximo de permanência de
crianças no interior de prisões. Na atualidade, 114 crianças com menos de 4
anos de idade viviam na Unidade nº 31; 63 eram nascidas na prisão e 37 nunca
haviam passado para o outro lado dos seus muros.
Apenas 40%
das presas eram condenadas. As outras 60% eram rés de processos sem sentenças
transitadas em julgado.
As crianças
que crescem em prisões adquirem os hábitos da vida carcerária e muitas vezes
desenvolvem medo de espaços abertos. Também manifestam manias tais como recusa
a abrir ou fechar portas. As crianças que vivem fora da prisão brincam de esconder,
as criadas atrás das grades só brincam nas ‘horas de visita’.
Notas da produção
‘Leonera’ foi
filmado na província de Buenos Aires, entre setembro e dezembro de 2007. Como
nunca antes na cinematografia argentina, foi rodado, na maior parte, dentro de
uma penitenciária de segurança máxima, com verdadeiros internos como extras.
Alguns dos
personagens guardas e agentes prisionais também foram interpretados por
funcionários do Sistema Penitenciário Buenairense.
As filmagens
foram feitas atrás das gredes. Todo o elenco e a equipe técnica conviveram com
o sistema penitenciário na maior parte da produção.
Muitas vezes,
obter permissão para trabalhar nesses locais e com esses atores parecia mais
uma tarefa judiciária do que uma filmagem. Foram necessárias autorizações
legais, carimbos, documentos e assinaturas de muitas autoridades.
Notas do diretor
Pablo Trapero |
‘Olha, papai!
É cor de rosa!’, disse Matei, que tinha 4 anos. Tirei os olhos da rodovia e vi
aqueles blocos de concreto enormes, unidades penitenciárias. De fato, uma era
colorida.
As palavras
de meu filho sobre o detalhe cromático dos muros foram a semente de ‘Leonera’.
Unidades em
que vivem mulheres com crianças. Crianças que perdem sua liberdade para ficar
perto das mães. Mães que fariam qualquer coisa pelo bem-estar de suas crianças,
mesmo quando o confinamento trama contra esse direito elementar.
Durante a
pesquisa, descobrimos que essa realidade é fruto de um esquema conhecido que se
repete nos sistemas penitenciários de muitos países.
O estranho é
que poucos concordam sobre a idade máxima até a qual uma criança pode viver na
prisão. Alguns acham que é 1 ano e meio; outros, 6 anos. Na Argentina, é até os
4 anos. Novos desacordos e uma certeza: as sociedades ignoram esta situação,
poucos ousam erguer a voz em defesa desta ou daquela posição. É duro ver
crianças na prisão; mais duro ainda é legislar em favor destas crianças
inocentes.
O objetivo de
‘Leonera’ é construir não só uma narrativa cinematográfica, mas também espaço
para debate e reflexão. Maternidade, solidão, amor, confinamento e esperança
são os eixos deste filme” (adaptado do press release do filme).
CINECLUBE DARCY RIBEIRO
Depois
de um grande filme, sempre um bom debate
Data: sábado, dia 29 de setembro de 2012
Hora: 13h
Local: Sala Florestan Fernandes (r. General
Jardim, 522, Casarão, próximo à estação República do metrô)