24 de setembro de 2012

Nossa próxima atração: "Leonera", em 29/9/2012

CINECLUBE DARCY RIBEIRO apresenta Leonera (Leonera, 2008, Argentina/Brasil/Coréia do Sul, 113 min, cor)
Direção: Pablo Trapero. Roteiro: Pablo Trapero, Alejandro Fadel, Martín Mauretegui, Santiago Mitre. Fotografia: Guillermo Nieto. Montagem: Ezequiel Borovinsky, Pablo Trapero. Música: Intoxicados, Chango Spasiuk, Los Palmeras. Elenco: Martina Gusman, Elli Medeiros, Rodrigo Santoro e outros.


Maternidade, solidão, amor, confinamento e esperança

“Fatos e números: o cenário do filme
Na Argentina, apenas 7% do número total de homicídios cometidos por homens resultam de acessos de paixão. No caso das mulheres, 72% são crimes de paixão.
Escolaridade das mulheres quando ingressam nas prisões: 37% nunca estudaram; 42% completaram o ensino fundamental; 9% terminaram o ensino médio; só 2% ingressaram no ensino superior.
A Penitenciária Feminina Unidade nº 31 “Nuestra Señora de San Nicolás”, em Ezeiza, foi inaugurada em 1996, depois de uma rebelião na Unidade nº 3, que era, até então, o único presídio federal para mulheres. Alegou-se que a nova prisão serviria para proteger as internas grávidas e as mães encarceradas com suas crianças.
Martina Gusman ("Julia")
Em 1997, a lei ampliou de dois para quatro anos o período máximo de permanência de crianças no interior de prisões. Na atualidade, 114 crianças com menos de 4 anos de idade viviam na Unidade nº 31; 63 eram nascidas na prisão e 37 nunca haviam passado para o outro lado dos seus muros.
Apenas 40% das presas eram condenadas. As outras 60% eram rés de processos sem sentenças transitadas em julgado.
As crianças que crescem em prisões adquirem os hábitos da vida carcerária e muitas vezes desenvolvem medo de espaços abertos. Também manifestam manias tais como recusa a abrir ou fechar portas. As crianças que vivem fora da prisão brincam de esconder, as criadas atrás das grades só brincam nas ‘horas de visita’.

Notas da produção
‘Leonera’ foi filmado na província de Buenos Aires, entre setembro e dezembro de 2007. Como nunca antes na cinematografia argentina, foi rodado, na maior parte, dentro de uma penitenciária de segurança máxima, com verdadeiros internos como extras.
Alguns dos personagens guardas e agentes prisionais também foram interpretados por funcionários do Sistema Penitenciário Buenairense.
As filmagens foram feitas atrás das gredes. Todo o elenco e a equipe técnica conviveram com o sistema penitenciário na maior parte da produção.
Muitas vezes, obter permissão para trabalhar nesses locais e com esses atores parecia mais uma tarefa judiciária do que uma filmagem. Foram necessárias autorizações legais, carimbos, documentos e assinaturas de muitas autoridades.

Notas do diretor
Pablo Trapero
‘Olha, papai! É cor de rosa!’, disse Matei, que tinha 4 anos. Tirei os olhos da rodovia e vi aqueles blocos de concreto enormes, unidades penitenciárias. De fato, uma era colorida.
As palavras de meu filho sobre o detalhe cromático dos muros foram a semente de ‘Leonera’.
Unidades em que vivem mulheres com crianças. Crianças que perdem sua liberdade para ficar perto das mães. Mães que fariam qualquer coisa pelo bem-estar de suas crianças, mesmo quando o confinamento trama contra esse direito elementar.
Durante a pesquisa, descobrimos que essa realidade é fruto de um esquema conhecido que se repete nos sistemas penitenciários de muitos países.
O estranho é que poucos concordam sobre a idade máxima até a qual uma criança pode viver na prisão. Alguns acham que é 1 ano e meio; outros, 6 anos. Na Argentina, é até os 4 anos. Novos desacordos e uma certeza: as sociedades ignoram esta situação, poucos ousam erguer a voz em defesa desta ou daquela posição. É duro ver crianças na prisão; mais duro ainda é legislar em favor destas crianças inocentes.
O objetivo de ‘Leonera’ é construir não só uma narrativa cinematográfica, mas também espaço para debate e reflexão. Maternidade, solidão, amor, confinamento e esperança são os eixos deste filme” (adaptado do press release do filme).

CINECLUBE DARCY RIBEIRO
Depois de um grande filme, sempre um bom debate

Data: sábado, dia 29 de setembro de 2012
Hora: 13h
Local: Sala Florestan Fernandes (r. General Jardim, 522, Casarão, próximo à estação República do metrô)

18 de setembro de 2012

Registro Fotográfico: 15.09.2012 - "Desmundo"

Frank fazendo apresentação inicial antes de começarmos a sessão


Debatedora Convidada: Roteirista, inclusive de Desmundo, Sabina Anzuategui 
Debatedora convidada: Profª.Drª. Eliana Asche
Ricardo Streich e Sabina Anzuategui
Debate
Sidnei


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12 de setembro de 2012

Nossa próxima atração: "Desmundo", em 15/9/2012

CINECLUBE DARCY RIBEIRO apresenta Desmundo (2002, Brasil, 101 min, cor)
Direção: Alain Fresnot. Roteiro: Sabina Anzuategui, Alain Fresnot, Helder Ferreira. Fotografia: Pedro Farkas. Montagem: Junior Carone, Alain Fresnot, Mayalu Oliveira. Música: John Neschling. Elenco: Simone Spoladore, Osmar Prado, Caco Ciocler, Berta Zemel, Beatriz Segall e outros.



Ao contrário da quase totalidade dos filmes que procuram representar fatos da história brasileira, Desmundo não é ridiculamente grandioso, gratuitamente irônico ou equivocadamente exótico. Na crueza da minuciosa reconstituição de época, vislumbram-se seres humanos — colonos portugueses, padres, freiras e noviças órfãs, indígenas escravizados — em ambientes, atividades e interações que bem podem ter sido aquelas que de fato ocorreram nos primeiros anos da ocupação da América pelos europeus.

Ou seja, nada de eufórica transferência dos melhores aspectos socioculturais lusitanos para as terras recém-descobertas, onde se irmanariam à inata nobreza e à profunda sabedoria dos locais. Isso é bem diferente do que faz crer certa visão eurocêntrica que romantiza, idealiza e falseia pessoas e fatos. É isso que se vê em Desmundo: a violência de gente enlouquecida de desejo em contraste com um ambiente extremamente hostil, no qual se transtornam as certezas, se emporcalham as crenças e se subvertem as esperanças. Nesse contexto, a religião, por exemplo, que se propõe a regular as relações interpessoais, naturaliza o abuso e humilha a pureza.

Osmar Prado ("Francisco de Albuquerque")
e Simone Spoladore ("Oribela")
A linguagem realista
Ainda nessa perspectiva realista, Desmundo distingue-se do ilusionismo melodramático recorrente na cinematografia inspirada em Hollywood pela opção de apresentar personagens que se exprimem na linguagem da época. (Já nos acostumamos com cavaleiros medievais, indígenas norte-americanos, asiáticos, extraterrestres, etc. que discursam fluentemente em inglês.) O diretor Alain Fresnot encarregou o escritor, pesquisador e linguista Helder Ferreira de recriar em português arcaico os diálogos do filme. Foi feito um elaborado trabalho de adaptação que, a partir de fontes diretas e indiretas, considerou não só a época (primeiras décadas do século XVI) como a condição social e de gênero dos falantes e até a presença de traços remanescentes de falares anteriores.

Assim, foi necessário recorrer a legendas em linguagem atual para benefício dos espectadores.

As escolhas do diretor
Caco Ciocler ("Ximeno")
“Minha primeira motivação em adaptar Desmundo [de Ana Miranda, publicado em 1996] para o cinema foi a grande qualidade do livro. [...] Um dos principais desafios que me coloquei ao adaptar o romance foi deslocar o foco da narrativa — transformar uma narração em primeira pessoa em uma história contada por uma visão exterior. O livro é narrado pelo olhar de uma menina, educada num mosteiro de freiras, que soma à sua religiosidade muitos sonhos. Oribela, no livro, tem seus delírios, há uma grande riqueza na parte onírica da personagem. Eu não me sentiria confortável se tentasse traduzir estes delírios em imagens. O que me interessou na transposição do livro para a tela foi a parte realista. A religiosidade da personagem também foi bastante diminuída em consequência de sua destituição do papel de narradora” (Alain FRESNOT, Impressões sobre a direção, in A. FRESNOT, H. FERREIRA & S. ANZUATEGUI, Desmundo, São Paulo, Imprensa Oficial, 2006, p. 14-15).

Alain Fresnot nasceu em Paris, em 1951, e veio para o Brasil com 8 anos. Exerceu e exerce quase todas as funções na atividade cinematográfica. Participou do grupo fundador da Tatu Filmes, empresa que ajudou a definir o perfil do cinema paulistano na década de 1980. É bem conhecido como montador — 31 títulos, dentre os quais O homem que virou suco (João Batista de Andrade, 1981) e A marvada carne (André Klotzel, 1987) — e também como roteirista, diretor assistente e produtor. Como diretor, além de Desmundo, realizou os longas-metragens Trem fantasma (1976), Lua cheia (1988), Ed Mort (1997) e Família vende tudo (2011), entre outras obras.

O “toque feminino” da roteirista
Simone Spoladore ("Oribela")
”Eu estava formada na faculdade de cinema fazia um ano e meio, em 1998, quando o Alain me convidou para trabalhar no roteiro de Desmundo. Ele desenvolvia o projeto havia quase dois anos, estava satisfeito com a linha narrativa, conforme me disse, mas queria melhorar os diálogos e acrescentar um certo ‘toque feminino’. Aceitei entusiasmada, depois de ler a versão do roteiro que ele me entregou, toda confiante no meu talento que ia afinal se descoberto, achando que era ‘a pessoa certa para aquele trabalho’, uma espécie de road movie feminino medieval, conforme me pareceu à primeira leitura” (Sabina ANZUATEGUI, Sobre o trabalho de roteirista, in A. FRESNOT, H. FERREIRA & S. ANZUATEGUI, Desmundo, São Paulo, Imprensa Oficial, 2006, p. 17).

A curitibana Sabina Anzuategui — roteirista, escritora, professora universitária e blogueira — vai debater o filme de Fresnot com os participantes do Cineclube Darcy Ribeiro, no dia 15 de setembro próximo. Será uma excelente oportunidade não só de conhecer as vicissitudes dessa realização, como aspectos da tarefa de roteirização, em especial quando se trata de adaptar uma obra literária à linguagem cinematográfica.



CINECLUBE DARCY RIBEIRO
Depois de um grande filme, sempre um bom debate
Debatedoras convidadas:
Sabina Anzuategui, doutora em Audiovisual pela ECA-USP, professora de técnicas de roteirização na Cásper Líbero, escritora e roteirista
Eliana Asche, graduada em Letras pela USP, doutora em Pedagogia pela PUC-SP, professora de Comunicação e Expressão na FESPSP, idealizadora do Projeto Literatura Espalhada de distribuição gratuita de livros

Este debate faz parte da programação do II Seminário de Leitur LiteraSampa, promovido pelo Polo LiteraSampa (http://literasampa.blogspot.com.br/).

Data: sábado, dia 15 de setembro de 2012
Hora: 13h
Local: Sala Florestan Fernandes (r. General Jardim, 522, Casarão, próximo à estação República do metrô)

2 de setembro de 2012

Nossas atividades recentes

CINECLUBE DARCY RIBEIRO apresenta Um método perigoso (A dangerous method, 2011, Reino Unido/Alemanha/Canadá/Suiça, 99 min, cor)
Direção: David Cronenberg. Roteiro: Christopher Hampton, John Kerr. Fotografia: Peter Suschitzky. Montagem: Ronald Sanders. Música: Howard Shore. Elenco: Keira Knightley, Viggo Mortensen, Michael Fassbender e outros.


O crítico Luiz Zanin Oricchio, cuja formação inclui a psicanálise, escreveu em seu blogue, em 31 de março de 2012, na época de lançamento deste filme no Brasil:

“Sabina Spielrein [...] na pele de Keira Knightley, é figura central de Um método perigoso, filme em que David Cronenberg relata um dos pontos nevrálgicos da aventura psicanalítica, a rivalidade entre Sigmund Freud e seu seguidor, Carl Gustav Jung, nessa que foi uma das notáveis sagas intelectuais do século 20. [...]
Keira Knightley e Michael Fassbender
O que Cronenberg revela, no entanto, é que, em meio a discussões teóricas, disputas clínicas e ideológicas, fervia o furor do sexo. O que não chega a ser surpresa, dado que o próprio Freud o coloca no centro da psique humana como motor oculto e às vezes visível de suas mais nobres motivações.
Sabina era russa e fora estudar medicina em Zurique. Num estado de sofrimento mental desesperador, busca tratamento com Jung. Apaixona-se pelo analista. Jung e Sabina tornam-se amantes. Naquele tempo, Freud havia designado Jung seu sucessor e procura interferir nesse relacionamento de todo indesejado pela política da psicanálise, uma disciplina nova que vivia sob o cerco da medicina psiquiátrica tradicional. Esse é período abordado por Cronenberg. [...]”

O indesejado terceiro

Michael Fassbender (à esq.) e Viggo Mortensen
“Foi uma decisão sábia. Em vez de nos debruçarmos sobre controvérsias teóricas tediosas para leigos, próprias do nascimento de uma disciplina polêmica, temos ao vivo os conflitos inscritos sobre a própria carne da personagem. Ou, seria melhor dizer, na carne dos personagens, já que Jung cede prazerosamente, mas não sem culpa, às tentações do métier. Era casado, e com uma mulher muito rica, que lhe proporciona vida confortável na aprazível Suíça. Mais velho, Freud cumpre o papel de terceiro indesejado nessa relação a dois. Aquele que interfere de forma paternal, mas não deixa de vislumbrar nem os encantos da moça nem a sedução do modo de vida de Jung, muito mais folgado e colorido que o seu. [...]
Cronenberg acerta, também, ao evitar seu gosto pelo grotesco e dar às cenas tratamento visual límpido, vagamente hiper-realista. Quando apresentou seu filme no Festival de Veneza do ano passado, justificou a opção, dizendo que lhe parecia a melhor para retratar história tão obscura. Mostrou também a preocupação em ser justo com os personagens. Disse que, quando alguém faz um filme biográfico, no fundo, as suas próprias inquietações é que são colocadas na tela, através de outros personagens. ‘É uma espécie de ressurreição dessas pessoas já mortas, e algo sempre imperfeito’, disse. Esses ‘simulacros’ são suficientemente verdadeiros? É uma inquietação do diretor.”

Atração e oposição

“De qualquer forma, Viggo Mortensen e Michael Fassbender propõem um Freud e um Jung bastante críveis. Não precisam ser parecidos fisicamente com os personagens reais (não o são). Basta que compreendam de maneira profunda o que atraía e o que opunha os dois grandes homens para que transmitam à história essa impressão de verdade a que chamamos verossimilhança. Isto é, a construção da verdade interna a partir da narrativa.
Entre os dois, a figura em aparência frágil, mas de fato poderosa da sexualidade, encarnada em Sabina. Fator que primeiro aproximou os dois homens e que terminou por separá-los.”


CINECLUBE DARCY RIBEIRO
Depois de um grande filme, sempre um bom debate
Debatedoras convidadas: Anna Silvia Rosal de Rosal, professora da FESPSP, Lilian Donatti, psicóloga junguiana, mestranda da PUC-SP, e Maria Regina de Moura Friedmann, psicoterapeuta psicanalítica e membro da Associação de Psicoterapia Psicanalítica (APP)

Data: sábado, dia 1º de setembro de 2012
Hora: 13h
Local: Auditório da FESPSP (r. General Jardim, 522, 7º andar, próximo à estação República do metrô)