Um
samurai-artista passeia pela estepe siberiana
CINECLUBE
DARCY RIBEIRO apresenta Dersu
Uzala (Dersu Uzala, 1975, URSS/Japão,
144 min, cor)
Direção: Akira Kurosawa. Roteiro: Akira Kurosawa, Vladimir
Arseniev, Iuri Nagibin. Fotografia: Fiodor Dobronravov, Iuri Gantman, Asakazu
Nakai. Montagem: Liudmila Feiginova. Música: Isaak Shvarts. Elenco: Maksim
Munzuk, Iuri Solomin, Svetlana Davilchenko, Dmitri Korshikov, Suimenkul
Chokmorov e outros.
Em "Dersu Uzala" (pronuncia-se "dersú usalá"), Akira Kurosawa toma a imensidão do deserto siberiano
como tela cinematográfica e cria um retrato visualmente hipnótico e
profundamente emocionante da natureza, da amizade e da sobrevivência.
Baseado nos diários do explorador russo Vladimir Arseniev, o filme começa
em uma área florestal prestes a ser "liberada para desenvolvimento",
onde Arseniev procura um túmulo sem identificação. Em flashback, uma expedição
topográfica militar comandada pelo capitão Arseniev (Yuri Solomin) encontra
Dersu Uzala (Maxim Munzuk), um nômade de etnia mongol, que se dispõe a guiar os
soldados pela estepe.
Inicialmente visto como um velho excêntrico e ignorante,
Dersu ganha o respeito dos soldados graças à inteligência, aos instintos
precisos, aos agudos poderes de observação e à profunda compaixão. Durante uma
violenta tempestade, salva a vida de Arseniev, montando um engenhoso sistema de
isolamento térmico na noite mortalmente fria. No final da expedição, deixa os
soldados junto a uma ferrovia e retorna ao deserto.
|
Maksim Munzuk ("Dersu Uzala") |
Anos depois, reencontra Arseniev em outra expedição de agrimensura. A
idade começa a pesar sobre os ombros do caçador solitário. Para se defender,
ele mata um tigre; convencido de que a natureza exigirá uma compensação por
esse ato, sua decadência física se acelera. Aceita o convite para morar com a
família de Arseniev na cidade. Aos poucos, sem poder caçar para viver e
atormentado pela culpa do absurdo abate de um animal, vai se consumindo diante
da lareira ardente, com o espírito alquebrado, perdido em suas lembranças.
Decide retornar para a Sibéria.
E é lá que Arseniev vai procurar seu túmulo.
|
Akira Kurosawa |
Akira Kurosawa (1910-1998), depois de "Rashomon" (1950), "Os
sete samurais" (1954) — fonte de inspiração artística para o Ocidente —,
"Yojimbo, o guarda-costas" (1961) e "Dodeskaden, o caminho da
vida" (1970), só para lembrar algumas de suas obras, estava afastado das
telas e se recuperava de uma tentativa de suicídio quando dirigiu "Dersu
Uzala", a convite da produtora soviética Mosfilm. O filme ganhou o Oscar
de melhor filme estrangeiro de 1976 e também foi premiado na Espanha, na
França, na Itália, na URSS, etc. O sucesso internacional e o tratamento que deu
ao conteúdo "ecológico", inusitado em sua filmografia, devolveram a
Kurosawa a reputação de prolífico roteirista (mais de 70 títulos) e grande
mestre da direção cinematográfica, mais do que experiente realizador de obras
de temática japonesa, numa época (depois da II Guerra Mundial) em que o governo
do Japão, praticamente ocupado por tropas norte-americanas, vetava obras de autores
que se aproximassem de tendências esquerdistas ou que exaltassem valores como
as tradições samurais e a prática de artes marciais. A seguir, ele filmaria,
entre outros, "Kagemusha, a sombra de um samurai" (1980),
"Ran" (1985), sua leitura do "Rei Lear" de Shakespeare, e o
belíssimo "Sonhos" (1990).
Um aspecto interessante a verificar em "Dersu Usala" é o
rendimento atual do sistema de cores cinematográficas Sovcolor (uma variante do
alemão AGFAcolor, lançado em 1939), a resposta soviética ao Technicolor
norte-americano (de 1916).
CINECLUBE
DARCY RIBEIRO
Depois de um grande filme, sempre um bom debate
Data: sábado, dia 31
de março de 2012
Hora: 13h
Local: Sala
Florestan Fernandes do Casarão (r. General Jardim, 522, próximo à estação
República do metrô)