8 de maio de 2012

Nossa próxima atração: "O caso dos irmãos Naves", em 12/5/2012

O significado político da tortura e da denúncia da tortura


CINECLUBE DARCY RIBEIRO apresenta O caso dos irmãos Naves (1967, Brasil, 92 min, p&b)
Direção: Luís Sérgio Person. Roteiro: Luís Sérgio Person, Jean-Claude Bernardet, baseado em obra do advogado João Alamy Filho. Fotografia: Oswaldo de Oliveira. Montagem: Glauco Mirko Laurelli. Elenco: Raul Cortez, Juca de Oliveira, Anselmo Duarte, Lélia Abramo, John Herbert e outros.


“No segundo semestre de 1965, Luís Sérgio Person apareceu inesperadamente no campus da Universidade de Brasília, onde eu lecionava. Já nos conhecíamos e tínhamos discutido bastante seu primeiro filme, São Paulo S. A.. Vinha me convidar para escrever com ele o roteiro de O caso dos irmãos Naves. Ele tinha, dobrada em quatro e amarelecida, uma reportagem de 1949 provavelmente publicada pela revista O Cruzeiro: os irmãos tinham sido condenados por um crime que não só não cometeram, como um crime que não fora cometido [...]

Os atores Raul Cortez e Juca de Oliveira
De volta a São Paulo, começamos a trabalhar no roteiro propriamente dito. Já nesta fase, tínhamos ideias mais claras sobre o filme. Já não se tratava apenas de relatar o ‘erro judicial’ ocorrido no final dos anos 1930 no interior de Minas Gerais. As relações com nosso presente social e político eram evidentes: a polícia tinha inventado uma realidade pela tortura, e a tortura vinha sendo praticada no Brasil pelo regime militar. O julgamento dos Naves se deu no início do Estado Novo, com um Judiciário submetido às novas autoridades, e no nosso presente a justiça tinha deixado de existir e se instalara um regime de violência e arbitrariedade.

O filme seria absolutamente fiel aos fatos dos anos 1930, mas se tornara uma metáfora política de nosso presente. Denunciaríamos a tortura e a arbitrariedade [...]

Foto de cena de O caso dos irmãos Naves
Outro problema que nos colocávamos era a questão da tortura. Tínhamos certeza que ela devis ser mostrada claramente, não podíamos nos limitar a discretas alusões. Estávamos denunciando a tortura. Por outro lado, não queríamos fazer um filme sádico. Procuramos um equilíbrio para que as cenas de tortura não se transformassem em espetáculo, e que sempre fossem perceptíveis a responsabilidade da polícia e a significação política desses procedimentos [...]

O caso dos irmãos Naves passou sem problema pela censura (o que não teria provavelmente ocorrido se tivesse sido produzido depois do AI-5), mas não foi muito bem recebido quando de seu lançamento em São Paulo e no Rio de Janeiro. Em compensação, as reações do público foram excelentes em várias cidades dos estados de São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Mato Grosso. O produtor recebeu telefonemas entusiastas de exibidores, que diziam que o filme refletia a vida do interior e que precisavam de mais filmes desse tipo” (Jean-Claude Bernardet, "Caso Naves", em Luis Sérgio Person e Jean-Claude Bernardet, O caso dos irmãos Naves: chifre em cabeça de cavalo, São Paulo, Imprensa Oficial, 2004, p. 5-14).


Esta sessão do Cineclube Darcy Ribeiro é dedicada ao Dia do Público, comemorado, por iniciativa do cineclubismo brasileiro, em 10 de maio.
Veja aqui a proposta de Felipe Macedo que deu origem a essa iniciativa.


CINECLUBE DARCY RIBEIRO
Depois de um grande filme, sempre um bom debate
Debatedor convidado: Rodrigo Estramanho, professor da FESPSP e pesquisador da PUC-SP e da Unesp

Data: sábado, dia 12 de maio de 2012
Hora: 13h
Local: Sala Florestan Fernandes do Casarão (r. General Jardim, 522, próximo à estação República do metrô)

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